" junho 2010 / da estante

terça-feira, 29 de junho de 2010

Medidas


A felicidade que eu encontrar não curará minhas dores.
As lágrimas que eu derramar não encherão o oceano.
Meu desânimo é grande mas não do tamanho do oceano.
Meu sonho é imane, bem maior que o oceano.
A minha liberdade, deste tamanho. 
A quantidade de enganos, a falta de amor é maior.
Não, não! 
É do tamanho.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Horizonte de mim



As vezes é bom olhar o horizonte mais distante entre as arvores de várias faces ou talvez sobre as nuvens ou sobre as águas do mar. Ouvir o som incessante do silêncio, do vazio. Verbalizar distúrbios.

Quero ver o céu mudar a cor, esse mar escurecer à dor que me pertence, no meu instante nulo.

Esse gosto amargo mas esperançoso de ver o horizonte distante. Quero parar tudo e me prestar favores, nunca tive coragem, nem tenho. E continuo assistindo, paralisada, esses sons perturbadores, essas dores finas, agudas e agonizantes.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

reticências



Não me permito adormecer enquanto o sol está quente e me queima sem pudor, não vou me abrigar embaixo de árvores. Eu quero sentir todo o queimor.

Quando estiver no frio, não quero um agasalho para me proteger, opto por me transportar à geleira mais sólida que houver e me transformar nela. Quando dizem que sou fria, não sabem o que mora no mais fundo do meu interior, na minha dor insana e incontrolável. Queria poder me ajudar, mas ainda não sei, e não estou apta a receber esses conhecimentos tão sábios. Ninguém sabe. Ninguém me aparenta querer saber. Ah, se soubessem o que se passa neste âmago...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Há o tempo que há


Às vezes eu pareço ter perdido as forças. Eu sei que as coisas não saem sempre do modo que desejamos mas descobri que há esperança. Um amigo escreveu sobre o abismo, lembrei-me vagamente do que escrevi há um tempo: 
O desejo incontrolável de me jogar e me livrar dos medos me leva a um precipício sem fim e eu sei plenamente que se me jogar não terei mais volta. Estou sem opções para continuar e dar o passo a frente, farei de mim o meu calvário, e desfrutarei da dor de me jogar no abismo mais profundo que há. Confesso, eu tenho o grande desejo de me acabar e olhando para trás vejo tudo que passou, memórias ralas, na plenitude do meu silêncio macabro. Aprecio-me encarando a ribanceira do "eu" pior. O melhor momento dessa vida desconexa é o abandono de si, para cair, chorar e sorrir, se distrair e cair, de todas as formas cair, cair de cabeça para que a dor seja direta e letal. Enfim, jogar-me no precipício, no abismo de mim, suicidar-me, ganhando nova vida para errar. Só acertar quando der o passo a frente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meu medo afundo de mim.

O que me faz escrever é a possibilidade de desabafar. Contar às criaturas insanas que me seguem. Cada passo meu é contado, só louca como eu anda contando passos de medo.
Vejo o quão solitárias são minhas tentativas de mudar essas criaturas que me possuem sem que eu perceba, boas e más.
A pobre criatura que agora, nesse mesmo instante que você lê, quer fazer-me parte sua com meu desprezo. Sensação e realidade. Um sonho como o meu insiste em pôr em minha mente que o chão afunda e afunda sem triscar e me balança fazendo cair em um abismo. E ainda tenho medo, como quase tudo, sem fim. O céu escurece e as nuvens perdem a cor brilhante e vertiginosa, com o sol que não existe mais, escondeu-se na escuridão. Talvez seja a infância, as dúvidas, imaginações...

Escrevo para expressar, e me ponho em personagens para não tornar tão nítido o meu mundo, que é mais difícil - não sei se essa é palavra certa para usar -, mas arrisco porque quem não ousa não vive. Tenho que superar os medos. Uso a leitura em função disso, e tento passar para leitores um pouco de mim. E ainda escrevo pra mim.
O chão não pára de ceder mas me acostumei com a ventania, o abismo, a escuridão, o sofrimento, minhas dúvidas, meu medo sombrio e frio.
© da estante
Maira Gall