" julho 2010 / da estante

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ferozmente louca


Certamente os vales se abrirão e jorrará um liquido escuro. Sobrevoará o corpo que vem do metal.
Trancará o frio sob o assoalho, jogará no lago fundo e turvo. Foz na manhã. Voz da noite, calada. Tentarás ouvir o silêncio do teu corpo e um halo encobrirá tua cabeça de testa larga. Caminhará lentamente como nuvens em dia de céu estranho, depois sentirá medo e correrá como nuvens em dias tempestuosos.
Tua posse física dos meus braços sumirá, e tu sucumbirá em pensamentos desconexos. O amargo silêncio vazio, infindável, do vácuo do teu corpo magro evaporará e os sons agonizantes zurzirão em teus ouvidos. Tu então pedirás ajuda e te negarão. Ficarás a nenhum. Enlouquecerás e buscarás a sanidade no teu perfume de peixe velho e cru - como cheiro da tua corrupção.
Flutuará e fugirá velozmente de ti (louca), sumirá na noite calada e voraz.
No meio, tu procurará o ninho aconchegante, onde há calor, daí então o frio te consumirá (literalmente). Congelarás ali, no fim da tua jornada torturante, em pleno bairro no centro da rua principal do teu ser. Podre.
E eu direi que sinto muito, mas não agirei, só servirei para olhar como fazem os meus semelhantes. Depois sorrirei da tua cara de nada e cuspirei em teu corpo fétido ao relento. Já estarás filiforme e teus membros miuçalha. Também nada farão as aves de rapina desta sociedade civilizada. Velha mitomania. Só me faço lembrar que ninguém sentirá tua falta, exceto aquele chão imundo que por último cheirou tua cara velha de jornada e sugada como laranja amarga (para não sentir o gosto).

quinta-feira, 8 de julho de 2010

nada


Estar por engano
me contorcer
pelo que não há.
E está. Se será?

Minha frases vão estar
na tua língua,
à míngua. 
Teus olhos fixaram a luz
que guarda os versos
e as rimas.

Fica a guardar meu eu
que vou estar nos teus pesadelos
tu vai pedir socorro
vai gritar e, aos apelos,
eu vou te atender, 
tu vai buscar consolo em mim.

E, assim, no fim, vou te esconder,
vou te fazer dormir.

Na coberta, acordar
e olhar para os lados
não existe nada (sem nada)
era só miragem, aguçada
assustada
Do lado de fora, o nada.

Aquele



Aquele que transcende
para o inesperado, aguçado,
temperado. 
Das pitadas de
afagos alastrados.


Aquele que esverdeia
os teus assustados olhos.
Aquele que procura
teus caminhos nos atalhos.


Na cantina dos sentidos,
deferindo teu poder. Te altera
num piscar, sem estancar, 
te apodrecer.

Com os olhos já verdes
iluminados nas pegadas.
Tendo-as pequenas
nas traçadas laminadas.

E depreciam a virtude
do vazio interior,
trazendo-o aturdido como aberto
ao calor.
O tal subestimado sentimento
do amor.

Estampado na cara,
de ter, não esconder.
Idiotismo doce com
insígne prazer. Descobrir
o enterrado, que sobrou
no mais afundo,
enterrando a solidão
que dominava o próprio mundo.
© da estante
Maira Gall